MOBILIDADE URBANA E HABITAÇÃO ESTUDO DE CASO: PARAISÓPOLIS

Estrutura de Oportunidades em uma favela de São Paulo

Estruturas sociais X Segregação Social


O texto faz referência à pesquisa etnográfica realizada na favela de Paraisópolis, localizada na Região Metropolitana de São Paulo, e tem como objetivo analisar as situações de vulnerabilidade social, e alternativas de melhoria de vida dos moradores de uma das maiores favelas do Brasil.


A favela de Paraisópolis situa-se no coração do bairro do Morumbi. A face leste da favela faz divisa com requintadas mansões; ao norte, a favela limita-se com o “ladeirão”, onde em um dos lados da calçada localizam-se mais mansões e, do outro, barracos. A divisão oeste é feita pelos luxuosos condomínios de apartamentos da Avenida Giovanni Gronchi. E, por fim, a face sul tem como fronteiras os muros do cemitério do Morumbi e terrenos particulares.


Figura 01: Favela de Paraisópolis e ao fundo bairro do Morumbi

Disponível em: http://farm2.static.flickr.com/1201/1406920636_e781fbd248.jpg


Paraisópolis insere-se em uma conjuntura de extrema pobreza, circunscrita pelo Morumbi, região de altíssima renda. A favela de Paraisópolis apresenta problemáticas relativas a aspectos comuns na maior parte das favelas, como: migração, desemprego, moradia, educação, saúde... Desse modo, a precariedade de Paraisópolis pode ser compreendida em um contexto de relativa oportunidade, ou seja, uma situação de relativa segregação social, mas com possibilidade de acesso a algum tipo de consumo; assistência social; e ocupação, mesmo que precários, limitados e informais.


De acordo com Kaztman e Filgueira o termo estrutura de oportunidades faz referência ao fato de que as rotas de bem-estar estão ligadas entre si, de modo que o acesso a determinados bens, serviços e atividades, resultam em recursos que facilitam o acesso a outras oportunidades. Ou seja, a estrutura das relações sociais modela a estrutura de oportunidade dos indivíduos. E, em relação à Paraisópolis, observou-se a articulação de três tipos de redes de relações que a tornam atrativa: a oferta de trabalho, devido ao fato de possuir entorno rico que requer serviços de mão-de-obra menos qualificada; as ações públicas (estatal e não-estatal) como as ONG’s, por exemplo; e as relações de caráter comunitário, como os laços entre os conterrâneos. Frente a essa situação, argumenta-se o fato de que Paraisópolis constitua uma estratégia de melhoria social para muitos pobres.


O crescimento da favela de Paraisópolis deveu-se, principalmente, à desapropriação da favela de Água Espraiada, que foi removida por interesses imobiliários para dar lugar a uma grande multinacional. O excesso populacional tem tornado as condições do local cada vez mais caóticas. O saneamento básico precário e a coleta de lixo irregular são aspectos que fazem parte do cotidiano dos moradores de Paraisópolis. Assim como as encostas que desmoronam devido ao assentamento irregular de centenas de habitações.


Figura 02: Lixo espalhado e saneamento precário.


Figura 03: Condições de moradia precária na favela.

Disponível em: http://www.outubrovermelho.com.br/2009/06/19/alianca-estrategica-contra-a-pm-no-mundo/


A melhor localização no interior da favela é a região central, parte mais antiga e organizada, nesse local residem os migrantes mais antigos e, muitas vezes, sua família recém-chegada. Os novos moradores, em geral, instalam-se nas regiões mais periféricas e precárias.


Figura 04: Região Central de Paraisópolis.

Disponível em: http://oglobo.globo.com/sp/mat/2007/09/27/297910906.asp


A região entre a favela e o bairro nobre é tão estreita, que se tem dificuldade em definir qual das regiões surgiu primeiro. Segundo o autor, Morumbi e Paraisópolis cresceram de mãos dadas, todavia, os moradores de Paraisópolis, principalmente os migrantes nordestinos, constituíram a maior parte da mão-de-obra responsável por erguer o luxuoso bairro. Portanto, à medida que crescia Paraisópolis, também crescia o Morumbi.


Essa relação de proximidade e segregação é confirmada pela ausência de qualquer tipo de transporte público que faça o trajeto Paraisópolis-Morumbi. Os trabalhadores de Paraisópolis que trabalham no bairro do Morumbi têm que recorrer aos perueiros, que fazem no bairro às vezes do transporte público entre os dois locais, geralmente realizando o trajeto em veículos bastante antigos. Nesse contexto, pode-se dizer que o Morumbi é “tão perto e tão pouco acessível”.


No interior do bairro do Morumbi, existem alguns aspectos urbanos que também contribuem para a delimitação de uma barreira entre o bairro e a favela, além de inibir a circulação de pessoas, como: o fato das ruas serem arborizadas; guaritas de segurança em praticamente todos os edifícios; e o próprio formato das ruas, curvas e descontínuas, que inibe a circulação de pessoas. Dessa forma, o indivíduo rico pretende se resguardar da população pobre vizinha, da qual teme algum ato de violência. Conforme definição de Caldeira, esses moradores constituem verdadeiros “enclaves fortificados”. Entretanto, existe uma contradição neste caso, pois geralmente quem cuida da segurança é o morador da favela.


O que se verifica no contexto de Paraisópolis e do Morumbi é uma distinção social espacial (o que delimita o acesso a serviços estatais, por exemplo) e simbólica (como o constrangimento gerado pelos esquemas de segurança). O estigma da favela em contraposição ao status do Morumbi confere aos dois espaços valores diferenciados por meio de uma violência simbólica, por vezes desapercebida; isto porque as estruturas sociais se convertem progressivamente em sistemas de referências mentais que hierarquizam socialmente os espaços físicos e os naturaliza.


Figura 05: “Enclaves fortificados” do bairro do Morumbi.



Ana Paula Duarte Alvarenga

Heloísa dos Santos Oliveira

Hudson Dal Ben

Ingrid Galvão Santi

Simone Brasil Villela



Texto na íntegra disponível em: http://www.centrodametropole.org.br/pdf/Ronaldo_Tiara_Cap8.pdf

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