MOBILIDADE URBANA E HABITAÇÃO ESTUDO DE CASO: PARAISÓPOLIS

Estrutura de Oportunidades em uma favela de São Paulo

Paraisópolis X Estrutura de Oportunidades


Paraisópolis é considerada um lugar de relativa ascensão social, visto que suas atividades econômicas não são diretamente influenciadas pela criminalidade, como acontece em diversas outras favelas da região metropolitana do Rio de Janeiro e de São Paulo.


Figura 01:Fachadas de fundo dos edifícios voltadas para a favela.


A opinião dos moradores em relação à favela é favorável, principalmente, devido à oferta de ocupação profissional na região. A oferta de empregos no local é melhor do que em diversas áreas mais industrializadas da região metropolitana de São Paulo. Uma pesquisa realizada com os moradores da favela indicou que cerca de 80% dos moradores estão trabalhando. Os desempregados somam apenas 20%. Quando se refere à totalidade dos indivíduos que exerce algum tipo de atividade remunerada, a porcentagem de trabalhadores sobe para 99,6%, número acima da média das favelas paulistanas.


O gráfico abaixo mostra uma pesquisa realizada na favela com o intuito de descobrir a que grupos ocupacionais os trabalhadores pertencem, mostram que a maior parte das ocupações estão concentradas nos serviços domésticos, serviços de limpeza e zeladoria, na construção civil e em serviços de segurança e transporte. Essas ocupações representam mais da metade dos empregos da população de Paraisópolis. Nota-se, portanto, que as ocupações predominantes estão muito ligadas à necessidade do entorno rico. Fazendo-se uma análise da história da favela, podemos compreender como esta nasceu e cresceu em função da construção dos prédios e mansões no bairro do Morumbi. A mão-de-obra contratada pela construção civil acabou se estabelecendo na favela. O comércio demandou balconistas, vendedores, garçons etc. E por fim, surgiu a necessidade de contratar pessoas para realizar os serviços domésticos nos domicílios do Morumbi.


Gráfico 01: Grupos ocupacionais dos trabalhadores de Paraisópolis


Quando nos referimos aos empregos domésticos, podemos perceber a relação próxima que muitos moradores da favela têm com seus patrões. Essa certa proximidade requer o pressuposto de segurança e confiança dos patrões a esses empregados, que devem cuidar de seus bens e de suas proles. Esse fato representa certa incoerência. São contratadas pessoas do mesmo local que se pretende evitar. Existe uma interpenetração entre condomínios, mansões e favela, apesar da arquitetura segregacionista. Podemos dizer que existe uma retroalimentação: à medida que se expandem mansões e condomínios fechados, maior é a demanda de profissionais da construção civil, do comércio e empregados domésticos. Existe, portanto entre os dois espaços, Morumbi e Paraisópolis uma relação de evitação e reciprocidade. Nos termos de Bordiau “uma oposição hierárquica em que a distinção espacial expressa uma distinção social”.


Figura 02: Contrastes entre duas realidades: favela e bairro nobre.

Disponível em: http://ninhodogaviao.zip.net/arch2008-06-01_2008-06-30.html



Figura 03: Paraisópolis X Morumbi

Disponível em: http://monicafreitas.wordpress.com/2009/10/02/brasil_sao-paulo_favela/


A separação geográfica imposta pela Avenida Giovani Gronchi e pelos esquemas de segurança do bairro evitam determinados tipos de aproximação, como a violência armada, mas não excluem o contato cotidiano direto com os moradores da favela. Por isso, é um equívoco pensar que a não existência de transporte coletivo de um lado para o outro signifique a ausência de interação. A verdade é que, por medida de segurança, os transportes públicos são indesejáveis no percurso das mansões. Entretanto, os moradores de Paraisópolis conseguem transporte até as avenidas principais e dali seguem a pé até o fim de seu percurso.


Dessa forma, através de observações etnográficas, pode-se constatar que morar próximo às áreas nobres aumenta a chance de conseguir emprego e ter acesso a benefícios. Isso se deve ao maior fluxo de informações nesses locais e à redução do custo do transporte para o empregador. Portanto, Paraisópolis é mais beneficiada que outras favelas da região metropolitana de São Paulo devido ao espaço geográfico onde está inserida, contíguo com o Morumbi.


Figura 04: Favela de Paraisópolis e ao fundo, grandes multinacionais.


Entre as inúmeras instituições que atuam dentro da favela, grande parte conta com o financiamento público e assim é possível beneficiar a população local com cursos de marcenaria, jardinagem, inglês, e, sobretudo, informática. O maior intuito da realização desses cursos é minorar o maior problema dos lugares pobres, segundo o entorno rico: a violência. A oferta das aulas visa, além de resultados materiais, a mudança de visão de mundo do morador.


Além de ONG’s, Estado e terceiro setor, as igrejas e hospitais também ajudam a comunidade, coletando roupas e alimentos e colaborando no mantimento dos maiores empreendimentos da favela que são uma creche e uma escola de capacitação técnica para adolescentes e um centro de saúde infantil.


Entretanto, os fatores de integração social não se limitam aos órgãos citados, são adensados pelos vínculos comunitários que são fundamentais em uma população caracterizada principalmente pela migração: cerca de 80% da população são nordestinos, principalmente da Bahia e Pernambuco. E, além disso, a maioria das pessoas se relaciona através amigos conterrâneos.


Tanto as relações familiares, quanto entre os conterrâneos, são estruturadas em relações de confiança e fidelidade. Entretanto, a diferença de intensidade provoca algumas diferenças entre elas. As relações entre os conterrâneos os auxílios são de baixo custo, e são ativados, por exemplo, nos mutirões de “encher a laje” ou no comércio ambulante. Já entre os familiares, circulam benefícios materiais, como empréstimo financeiro, auxílio nos momentos de doença e divisão no cuidado da prole. Dessa forma, a família atua como integradora e maximiza os ativos do indivíduo, ou seja, é como se a família fizesse parte do indivíduo e prolongasse suas possibilidades de interação dentro de uma comunidade.


Foi levantado na apresentação, também, que o associativismo dos pobres é predominantemente religioso, conforme comprovado com pesquisa na RMSP por Lavalle (2001). Além disso, o vínculo participativo mais consistente é o evangélico. E em Paraisópolis não é diferente, sendo que possui uma taxa de evangélicos maior que a média da RMSP, e grande parte deles são nordestinos. Levando-se em conta que o Nordeste é a região mais católica do Brasil, esse fato é explicado pela vulnerabilidade dos nordestinos causada pela migração familiar entre Nordeste e Sudeste. O pertencimento nessa rede de evangélicos garante, além do aspecto espiritual, acesso a benefícios materiais como cestas básicas, roupas e indicações para empregos, pois direcionam a ajuda para os chamados “irmãos de fé”. Assim, é perceptível que essas redes informais, alheias ao mercado e ao estado, afetam a estrutura de oportunidades.


Em suma, vale ressaltar, que apesar de Paraisópolis estar inserida em um contexto de possibilidades de trabalho e estudo, a oferta existente não cobre a enorme demanda do bairro e grande parte da população não consegue ser incluída no mercado de trabalho formal e nos projetos assistenciais. Entretanto, em relação às outras favelas e a grande parte da periferia de São Paulo, Paraisópolis é um local de dinamismo econômico e com assistência social, ou seja, ser pobre em Paraisópolis é menos desagradável do que ser pobre, por exemplo, em Cidade Tiradentes, é um local de precária assistência estatal, com altas taxas de criminalidade e está longe dos “lugares nobres” e da circulação de bens, serviços e projetos assistenciais.


Assim, vê-se que a estrutura de oportunidades é contextual, pois a pobreza varia muito em suas formas no interior do espaço metropolitano, da mesma maneira as políticas públicas devem ser diferenciadas tendo como uma de suas variáveis o espaço, não limitado ao físico, mas associado ao conjunto de relações sociais, nas quais circulam benefícios, contatos, informações, etc, ou seja, volta-se a idéia principal desse contexto, descrita pelo autor: a estrutura das relações sociais modela a estrutura de oportunidades dos indivíduos.



Ana Paula Duarte Alvarenga

Heloísa dos Santos Oliveira

Hudson Dal Ben

Ingrid Galvão Santi

Simone Brasil Villela


Texto na íntegra. Disponível em: http://www.centrodametropole.org.br/pdf/Ronaldo_Tiara_Cap8.pdf

Vídeo com reportagem sobre fotografias da favela. Disponível em:

http://www.youtube.com/watch?v=tHyOojKOD1o

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