Modelos e solucões de conjuntos habitacionais 03

Primeiras Iniciativas de Conjuntos habitacionais no Brasil - IAPs

Texto base: Habitação social e arquitetura moderna: os conjuntos residenciais dos IAPs - Nabil Bonduki

As primeiras iniciativas brasileiras em relação a habitação de interesse social foram realizadas a partir do governo de Getúlio Vargas, no Estado Novo. A maior parte dessas iniciativas foram feitas a partir dos IAPs – Intituto dos Aposentados e Pensionistas. Diversos edifícios foram construídos, mas muitos não passaram do projeto e outros não chegaram a ser concluídos.
O Pedregulho e Conjunto da Gávea podem ser considerados contra-exemplos da produção da habitação social da época, pois foram resultado de diversos projetos elaborados entre 1937 e 1950, conseqüência de processo de reflexão e produção do tema. Esses projetos foram paradigmas da habitação social produzida no Brasil e não podem ser referidos como modelos do que estava sendo produzido contemporaneamente.
De uma forma geral, os conjuntos habitacionais projetados neste período se baseavam no racionalismo formal e eram desprovido de conteúdo, produzindo obras de péssima qualidade.
O Brasil passou pelo mesmo processo ocorrido na Europa, a mudança da tipologia de casas isoladas para grandes núcleos habitacionais, para que o déficit habitacional promovido pela grande expansão urbana pudesse ser superado. Os objetivos e soluções técnicas adotadas estavam influenciados pela social-democracia e a habitação era vista como um serviço público a ser fornecido pelo governo.
A opção por blocos com edifícios coletivos também estava relacionada a visão política dos que defendiam o aluguel – pago ao governo, através de dedução no salário ¬– e não a casa própria, mais associada a casa isolada, localizada em um terreno com quintal.
Os modernos produziram uma habitação totalmente desvinculada da cultura e das tradições brasileiras. A intenção era que a partir das novas formas de tratar a habitação se produzisse um novo jeito de morar, mudando o comportamento dos habitantes, tornando-o mais racional.
A simplificação do trabalho domésticos através da criação de áreas de serviço coletivas, mostra essa visão racional, assim como a renovação do mobiliário para adequação ao tamanho mínimo dos apartamentos. A habitação não é mais vista como apenas a casa, mas sim um conjunto de equipamentos e serviços coletivos, funcionando como instrumento de liberação social, estimulando a vida comunitária. O habitar racional era o princípio da cidade moderna.
Como exemplos do que foi citado anteriormente, podemos citar o Pedregulho, de Affonso Reidy, que era um edifício autônomo, contendo escolas, lavanderias comunitárias, quadras para esportes, creches, entre outros serviços, e o Conjunto Baixada do Glicério, do arquiteto Atílio Correia Lima.
Para elaboração dos projetos dos conjuntos habitacionais uma série de regras e normas deveriam ser seguidas, sendo elas:
1- A construção de conjuntos urbanos segregados do traçado urbano existente;
2- Construção em blocos;
3- Limite de altura de 4 pavimentos;
4- Construção em pilotis, mantendo o térreo livre;
5- Apartamentos duplex;
6- Utilização de conceitos de racionalização, formando conjuntos autárquicos;
7- Articulação dos conjuntos com planos urbanísticos;
8- Casa mobiliada.
A construção em blocos foi a opção preferencial pois, a casa isolada no meio do terreno implicava em expansão horizontal da cidade, gerando oneroso sistema de infra-estrutura urbana.
A princípio, até meados dos anos 30, as tipologias habitacionais eram de vilas com casas geminadas de até 2 pavimentos com ruas estreitas, em implantação tradicional: ruas, quarteirões, lotes e casas (isoladas no lote), demonstrando influência higienista.
Com uma visão geral, quatro grupos de conjuntos habitacionais foram feitos através dos IAPs:
1- implantação racionalista (blocos multifamiliares)
2- unidades de habitação (único bloco vertical)
3- cidade-jardim
4- casas unifamiliares, geminadas ou isoladas.
A maioria dos conjuntos criados pelo IAP continham acima de 500 unidades com mais de 3000 moradores, concebidos como núcleos urbanos, com equipamentos e serviços.
Os blocos projetados tinham três, quatro ou cinco pavimentos sem elevador, e eram dispostos no terreno em composições variáveis mas, na maior parte deles, buscando a trama cartesiana. As implantações eliminaram a noção de lote e terreno privado, através da utilização dos pilotis, portando todo espaço remanescente era público. A maior parte dos blocos foi concebido com apartamentos duplex e já mobiliados.
A médio e longo prazo, percebeu-se que o gasto com infra-estrutura devido a periferização promovida pelo controle do solo pelas construções de médio e alto nível, foi muito grande, trazendo problemas a esse tipo de implantação segregada do traçado urbano existente.

Referências bibliográficas:
CARDOSO, Luiz Antonio Fernandes., OLIVEIRA, Olívia Fernandes de., (Re) Discutindo o moderno. DO.CO,MO.MO-Brasil, Universidade Federal da Bahia. Mestrado em Arquitetura e Urbanismo. 1995
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil. 1900-1990. Edusp, São Paulo, 1998.











Figura 01 - Conjunto Vila Guiomar, em Santo André, 1953.












Figura 02 - Conjunto Residencial Passo de Areia, Porto Alegre, 1946.















Figura 03 e 04- Conjunto IAPI na Rua Japurá, São Paulo do arquiteto Eduardo Knesse de Melo, 1947.

















Figura 05 e 06- Pedregulho, Rio de Janeiro, do arquiteto Affonso Reidy.

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