“Foi a população de SP que se levantou”, diz o Movimento Passe Livre

“Foi a população de SP que se levantou”, diz o Movimento Passe Livre

“Os protestos em São Paulo têm demonstrado que há um novo e velho agente político na cidade: a população”
Rafael Siqueira e Matheus Preis, do Movimento Passe Livre (MPL), no UOL
É claro que o Movimento Passe Livre não tem 15 mil militantes e nem nenhuma das outras entidades envolvidas. É a população de São Paulo que outra vez se levantou.
Assim como, no início dos anos 1980, grandes revoltas populares levavam milhares de pessoas a protestar (com ênfase nos bairros de periferia da zona sul) contra as demissões em massa e os altos preços dos alimentos, agora o transporte público se torna alvo dessa força explosiva.
Após 30 anos, voltamos a ver as manifestações ganharem peso na imprensa, juntamente com o assenso da violenta repressão policial. A grande diferença é que, se antes as revoltas e saques eram realizados por trabalhadores adultos, normalmente pais de família desesperados com as condições impostas por uma grande crise econômica deixada pela ditadura militar, agora a maioria dos manifestantes é mais jovem.
Jovens estudantes, jovens trabalhadores, jovens da periferia, jovens secundaristas. Forma-se na cidade uma nova geração que não aceita as péssimas condições do transporte coletivo e, mais ainda, compreende a necessidade de sair às ruas para lutar pelo direito à cidade e à mobilidade urbana.
Os governantes tentam deslegitimar como podem a disputa política colocada pelo povo. Eles denunciam os danos à propriedade causados por alguns manifestantes e deixam de lado a violência provocada pelo próprio poder público: em primeiro lugar, o aumento da tarifa, que faz crescer a exclusão urbana e a camada da população marginalizada pelos custos da sobrevivência e, em segundo lugar, a violência militar que proíbe a manifestação política daqueles que não querem se arriscar a tomar um tiro de borracha, um estilhaço de bomba de efeito moral, ou que simplesmente não conseguem respirar em meio às nuvens de gás lacrimogêneo.
A grande verdade é que o poder público se nega a dialogar com o movimento, virando as costas para a população que não aceita o aumento das passagens de um transporte público caótico, indecente e que tem como única função manter os altos lucros dos empresários do ramo.
Nem as tentativas do Ministério Público, nem o pedido de reunião com o prefeito protocolado pelo MPL conseguiu sensibilizar as autoridades para que negociem a revogação do aumento.
Nesse último ato, como já havia sido anunciado pelos governantes, a repressão cresceu. Cresceu tanto que ultrapassou a violência contra a integridade física e o direito de manifestação política da população e atingiu repórteres, cinegrafistas e jornalistas que cobriam o protesto.
Fotos e vídeos independentes surgem a todo momento nas redes sociais mostrando o bom preparo para a truculência da Polícia Militar, que iniciou a tarde de ontem efetuando detenções completamente arbitrárias – sem acusações formais – de dezenas de manifestantes e transeuntes.
Diante desse quadro de repressão em tal medida descarado, nenhum órgão de comunicação é capaz de fazer vistas grossas, e os eventos chegam a ser denunciados por entidades internacionais como a Anistia Internacional e o Repórteres sem Fronteiras.
O Movimento Passe Livre entende que este se trata de um dos momentos de maior relevância da história recente das lutas populares em todo o país e vai continuar com as mobilizações até a tarifa cair. Revogar o aumento das passagens não é só uma medida de reparação do aumento da exclusão urbana pelo poder público, como também é uma demonstração de respeito à vontade popular própria de um Estado democrático, em que o poder emana do povo.

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