drops 077.08 prêmio apca: Prêmio APCA 2013 – Categoria “Registro de arquitetura” | vitruvius

drops 077.08 prêmio apca: Prêmio APCA 2013 – Categoria “Registro de arquitetura” | vitruvius

O conjunto habitacional do
Jardim Edite (1) apresenta vários aspectos inovadores para a arquitetura
de habitação social pública brasileira contemporânea nos campos do
urbanismo, das políticas públicas e da forma arquitetônica.
O primeiro se refere à sua inserção urbana em uma das
áreas mais valorizadas de São Paulo, decorrente de operação urbana
realizada para a ampla reurbanização das margens do córrego Águas
Espraiadas, em razão do que a favela existente no local foi removida.
O segundo destaca a composição do programa, onde as
unidades habitacionais vêm acompanhadas por equipamentos de lazer de uso
comum ao lado de equipamentos  sociais que servem ao conjunto e à
vizinhança.
Por último, o caráter geométrico abstrato que organiza a
constituição da volumetria, revelando de modo discreto nas suas faces o
uso dos seus interiores.
Ainda que a reurbanização da várzea tenha tido como
aspecto mais visível a estreita canalização do córrego para a construção
da avenida Roberto Marinho, à qual veio a ser acrescentada a ponte
monumental sobre o rio Pinheiros, o compromisso com a realocação dos
antigos favelados na mesma vizinhança permaneceu. Recursos da própria
operação urbana viabilizaram a construção, demonstrando a potencialidade
de tais instrumentos no enfrentamento das pressões do mercado
imobiliário sobre ocupações vulneráveis localizadas em regiões de alto
valor do solo.
Seu programa combina edifícios de apartamentos com
volumetrias verticais e horizontais, nos quais equipamentos sociais de
uso público (Unidade Básica de Saúde, creche e restaurante escola)
convivem com as unidades habitacionais. Além das facilidades que servem
ao conjunto para lazer e convívio dos moradores, a presença dos três
equipamentos são justificadas pelo perfil social da região, onde 17% da
população ganha até dois salários mínimos (2). A tais potenciais
usuários, soma-se a população flutuante de trabalhadores que podem se
beneficiar da presença da UBS nas proximidades do seu emprego.
O projeto organiza as habitações em dois tipos de
volumes, um alto e estreito e outro baixo e longo. A disposição desses
volumes nas duas glebas longilíneas procura evitar as repetições
infindáveis de uma única tipologia, característica de grandes conjuntos
habitacionais. Os três edifícios altos delimitam os topos das glebas
junto à avenida Berrini e à rua transversal, como que a proteger os dois
edifícios baixos que se estendem junto a uma das faces dos terrenos
para liberar as áreas de lazer e dos equipamentos sociais. Criam assim
um sentido discreto de variação decorrente do tamanho das glebas e da
alternância entre altura e posicionamento dos volumes.
Ao elevar a circulação entre os acessos dos
apartamentos, o projeto separa os dois tipos de usuários, os moradores
dos apartamentos e os que procuram os equipamentos sociais, localizados
ao rés-do-chão, atendendo à necessidade de segregação dos usos
especializados.
As configurações das faces dos volumes elevados tem
forte presença no espaço urbano. O contraste entre as duas faces
principais, uma com janelas corridas horizontais e outra com um padrão
xadrez de aberturas e paredes opacas, gera curiosidade para se entender a
relação entre as fachadas e a estrutura interna do volume.
Na face com as janelas corridas, a linearidade unifica
as aberturas dos diferentes ambientes internos dos apartamentos
(dormitórios, salas e banheiros). Na face oposta, o padrão xadrez das
aberturas anima os corredores de circulação, concebidos de modo mais
largo para permitir algum nível de convivência entre os moradores e de
extensão do ambiente interno dos apartamentos.
O plano xadrez cobre apenas o setor dos corredores,
liberando abertura plenas nas áreas de serviço das extremidades do
volume. Nelas, os pertences dos moradores – roupas nos varais, vasos,
bicicletas, baldes, vassouras – são expostos à cidade, explicitando,
ainda que discretamente, o uso habitacional dos volumes
geométrico-abstratos do conjunto em meio à paisagem corporativa da
vizinhança.
No seu conjunto, o projeto reafirma a tradição
brasileira de que políticas públicas socialmente relevantes podem ser
construídas com arquitetura de qualidade em localizações socialmente
responsáveis.
nota
NE

Este texto é desenvolvimento da justificativa de premiação presente na Ata de Premiação APCA 2013,
assinada pelos críticos de arquitetura filiados à Associação Paulista
de Críticos de Arte. Os prêmios outorgados nas sete categorias –
Conjunto da obra; Melhor obra; Obra referencial; Registro de
arquitetura; Fronteiras da arquitetura; Promoção à pesquisa; e
Urbanidade – foram selecionados por unanimidade ou maioria a partir de
critérios discutidos coletivamente. A responsabilidade de redação final
coube a um determinado crítico, mas os argumentos foram discutidos
coletivamente pelos críticos de arquitetura Abilio Guerra, Fernando
Serapião, Guilherme Wisnik, Maria Isabel Villac, Mônica Junqueira de
Camargo, Nadia Somekh e Renato Anelli.
1

Ver: PORTAL VITRUVIUS. Conjunto Habitacional do Jardim Edite. Projetos, São Paulo, ano 13, n. 152.04, Vitruvius, ago. 2013 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/13.152/4860>.
2

Cf. Website Comunidade de práticas <http://atencaobasica.org.br/relato/1532>.
ficha técnica
projeto
Conjunto residencial Jardim Edite
autoria
MMBB Arquitetos, H+F Arquitetos
arquitetos
Marta Moreira, Milton Braga e Fernando de Mello Franco (MMBB); Eduardo Ferroni e Pablo Hereñú (H+F Arquitetos)
colaboradores
Eduardo Martini, Marina
Sabino, Giovanni Meirelles, Cecilia Góes, Gleuson Pinheiro Silva,
Adriano Bergemann, André Rodrigues Costa, Maria João Figueiredo, Martin
Benavidez, Naná Rocha, Tiago Girao, Guilherme Pianca, Giselle Mendonça,
Eduardo Pompeo, Rafael Monteiro e Lucas Vieira (MMBB); Tammy Almeida,
Joel Bages, Natália Tanaka, Diogo Pereira, Gabriel Rocchetti, Danilo
Hideki, Thiago Benucci, Mariana Puglisi, Luca Mirandola, Thiago Moretti,
Luisa Fecchio, Bruno Nicoliello, Renan Kadomoto e Carolina Domshcke
(H+F Arquitetos)
sobre o autor
Renato Anelli é professor titular do Instituto de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo em São Carlos e
autor de diversos livros e artigos publicados no Brasil e no exterior.

Comentários