Seculo Diário_ Lei do PDM permite construções em área de amortecimento do Rio Jucu

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Lei do PDM permite construções em área de amortecimento do Rio Jucu

Pelo menos cinco condomínios residenciais são projetados para a região, o que irá agravar problema dos alagamentos
 

Any Cometti
26/12/2013 17:16 - Atualizado em 30/12/2013 16:27

A Lei nº. 5.441/2013, que altera o Plano Diretor Municipal (PDM) de
Vila Velha e foi sancionada recentemente pelo prefeito Rodney Miranda
(DEM), permite que novas construções sejam feitas na área de
amortecimento do Rio Jucu, o que pode agravar ainda mais a situação já
alarmante dos alagamentos que ocorrem na região de Guaranhuns.

A posição é do Fórum Popular em Defesa de Vila Velha (FPDVV). A
entidade alerta que as pessoas que adquirem imóveis no local correm
riscos. Isso porque o aterro que é feito para suportar tal construção no
local impede posteriormente o escoamento das águas, além de não
respeitar a área de amortecimento do Rio Jucu, na qual deveria ser
mantida uma distância mínima segura para os períodos de cheias do rio.
A resistência a essa ocupação irregular nas margens do rio é uma
bandeira do Fórum já transmitida diversas vezes ao debate do PDM.
Entretanto, como já reiteraram os representantes da entidade, a atual
gestão municipal ignora constantemente os protestos. Diversas manobras
entre o Executivo e a Câmara Municipal já foram feitas para beneficiar o
setor empresarial da cidade. O Fórum já havia comunicado anteriormente
que o PDM seria refeito após a sanção de leis que repetiam o mesmo erro
apontado na gestão de Neucimar Fraga (PV): a exclusão da sociedade civil
organizada do processo.
Segundo Mac Scardua, do Fórum, existem cinco empreendimentos planejados
para a região que estão em processo de licenciamento e de elaboração do
projeto: Green Park, Alphaville, Riviera Park, Boulevard Lagoa e
Villagio Santa Paula. Ele ressalra que na gestão Neucimar Fraga (PV)
nenhum desses empreendimentos possuía licenças nem autorização, situação
que foi revertida na administração de Rodney. A sanção da Lei nº.
5.441/2013 permitiu que esses empreendimentos avançassem no local que
deveria ser resguardado. “É uma questão de respeito à natureza”,
enfatizou.
A nova lei estabelece parâmetros urbanísticos para Vila Velha,
repetindo artigos que já haviam sido declarados inconstitucionais pela
Justiça, em ação civil pública que contestou a legislação anterior, da
gestão Neucimar. No começo deste mês, o Ministério das Cidades concluiu,
em nota técnica enviada ao FPDVV, que a lei pode representar a outorga
de benefícios a alguns grupos minoritários com interesses imobiliários
especulativos no município.
A nota também definia que a lei contraria os princípios da função
social e gestão democrática da cidade. Diante da denúncia e dos
documentos enviados pelo Fórum, o Ministério também afirmou que a
aprovação da lei foi "realizada em caráter de urgência e sem a garantia
dos devidos espaços de participação e gestão democrática previstos em
lei federal" e que a função social e a gestão democrática da cidade
"devem ser garantidas no Plano Diretor e em leis relacionadas a ele".
O Fórum pretende encaminhar uma cópia desta resposta ao Ministério
Público Estadual (MPES), onde já existe uma ação civil pública nesse
sentido e tramita uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) pela
suspensão da Lei 5.441. A entidade que anexar o documento ao processo. 
A ação civil pública existente no MPES foi ajuizada pela Promotoria de
Justiça Cível contra o município, em decorrência da sanção da lei. O
processo, segundo o Ministério Público, foi conduzido de forma ilegítima
e sem o devido debate com a população, como determina a legislação. Na
ocasião, o MPES tratou a nova lei como “encomenda e mais uma maquiagem”.
Em setembro, o MPES já havia instaurado inquérito civil para apurar ato
de improbidade administrativa do presidente da Câmara de Vila Velha,
Ivan Carlini (DEM). Ele ignorou recomendação da Promotoria para garantir
a participação popular no processo antes de colocar em votação o
Projeto de Lei nº035/13 que gerou a lei, regulamentando obras e projetos
arquitetônicos com base em dispositivos do antigo Plano Diretor
Municipal. Informações de bastidores apontam que Carlini até convocou
uma reunião com os vereadores antes da votação, quando defendeu o
projeto, mas sequer teria informado aos colegas de plenário da nota
recomendatória. No mesmo dia, Rodney Miranda, presidente regional do
DEM, esteve na Casa para a festa de filiação do vereador ao partido. 
O Fórum Popular em Defesa de Vila Velha ressaltou, na ocasião, que a
medida altera radicalmente os parâmetros urbanos da cidade e é uma
afronta ao movimento popular, ao MPES e ao Tribunal de Justiça, que
acompanharam o debate e foram excluídos do processo atual. A entidade
também havia pedido cautela aos vereadores e mais tempo para discutir a
proposta, mas foi ignorada.

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