A guerra do esgoto

A guerra do esgoto

Confira a coluna Praça Oito desta terça-feira, 23 de fevereiro

Autor: Vitor Vogas (LINK ACIMA)

Com a crise do Rio Doce, CPI do Pó Preto e as maiores indústrias do Estado (Samarco, Vale e ArcelorMittal) além da Infraero sendo objeto de multas e investigações, questões ambientais estão na ordem do dia dos capixabas e com certeza entrarão na pauta dos candidatos a prefeito de Vitória. Nos últimos dias, temos assistido a um ensaio dos debates que devem entrar na agenda de campanha, com as discussões em torno das verdadeiras causas e responsáveis pelo súbito aumento da contaminação do mar de Camburi.
Assim como Colatina viveu, no ano passado, a chamada Guerra da Lama (com o choque de informações desencontradas entre grupos políticos rivais), Vitória vive agora a sua Guerra do Esgoto: uma série de versões dissonantes cujo pano de fundo, ao que tudo indica, é o embate político entre a Prefeitura de Vitória (prefeito Luciano Rezende) e a Cesan (governador Paulo Hartung).
Em entrevista ontem à Rádio CBN Vitória, Luciano não cobrou diretamente a Cesan. Mas também nem precisou fazê-lo. O raciocínio adotado por ele conduz necessariamente à companhia estadual. Luciano fala em exigir da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Seman) que forneça, em 30 dias, os dados precisos sobre o número de ligações de esgoto na cidade, para que, de posse desses dados, a prefeitura possa pensar soluções para o problema. Mas ora, quem alimenta a Seman com esses dados é a Cesan. Ainda que de modo indireto, a cobrança à empresa pública de saneamento do Estado está presente na cautelosa escolha de palavras do prefeito.
Cautela, aliás, deu o tom da entrevista de Luciano. Sem pretender dar respostas prematuras, ele preferiu guardar para si suas declaradas “suspeitas” e lançar uma série de perguntas – a coluna contou 25, quase uma por minuto em seus 23 minutos no ar. “Por que a situação da praia se reverteu? Por que esse retrocesso nos últimos dias? De onde vem esse fenômeno que, nos últimos 15 dias, transformou em impróprio aquilo que estava próprio para banho? Essa é que é a pergunta.”
A cobrança indireta à Cesan também aparece em outras passagens, quando ele reclama “informações com precisão” e “respostas dos órgãos responsáveis” (leia-se Cesan). “A Companhia Estadual de Saneamento recebe uma taxa de esgoto de toda a população para cuidar disso. Ela precisa informar à prefeitura com precisão. Os números não batem.”
Igualmente sugestiva é a menção do prefeito às multas aplicadas à Infraero por causa do pó vermelho e à Arcelor por causa do enxofre. “Os órgãos responsáveis têm que nos responder. Vamos acionar inclusive a nossa Procuradoria.”
Tecnicamente, a prefeitura pode até vir a aplicar multa à Cesan, se entender que é o caso.
Digna de nota também é a relação frisada por Luciano entre a taxa de esgoto cobrada pela Cesan dos moradores da Capital e o resultado do serviço – relação que seria discrepante. Segundo ele, é necessário discutir essa taxa. “Se o morador paga taxa de esgoto, por que a praia ainda está poluída? Temos um morador pagando pelo esgoto e não tendo a sua principal praia balneável.”
Junto com os resíduos sanitários, a polêmica está lançada nesse mar aberto de interrogações. E esta briga em torno do esgoto não está nem perto de se esgotar. Não se sabe quem está com a razão, mas os moradores de Vitória merecem respostas e soluções para um problema inacreditável em 2016. De preferência, soluções conjuntas, que envolvam todos os atores e instâncias governamentais envolvidas. Politizar a questão pode interessar a um ou outro lado político. Certamente não ao cidadão, cuja paciência, esta sim, está esgotada.

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