Famílias gastam 5 vezes mais com transporte privado Aumento de renda e falta de investimento em meios coletivos têm acarretado mudança na locomoção diária
Famílias gastam 5 vezes mais com transporte privado
Aumento de renda e falta de investimento em meios coletivos têm acarretado mudança na locomoção diária
As famílias brasileiras moradoras de áreas urbanas comprometem cerca de 15% da renda mensal com transporte diário, sendo o gasto com transporte privado cinco vezes maior que o montante despendido com transporte público. Metade delas, nas capitais, têm despesas com transporte privado, e a outra metade com transporte público. Nos colares metropolitanos, 67% dos domicílios pesquisados afirmam ter gasto com transporte público.
No Comunicado do Ipea nº 154 – Gastos das famílias das regiões metropolitanas brasileiras com transporte urbano, pesquisa na qual estão esses dados, foram utilizadas duas categorias de transportes: público (serviços de ônibus, ferrovias, metrôs e trens metropolitanos, transporte hidrográfico, táxi, mototáxi e transporte alternativo) e privado (automóveis, motocicletas e caminhonetes, além das bicicletas).
A apresentação do estudo ficou a cargo de Carlos Henrique Carvalho, técnico de Pesquisa e Planejamento do Ipea. O diretor substituto da Dirur, Miguel Matteo foi o mediador, e informou que em dez anos, de 1998 a 2008, o PIB do Brasil cresceu em média 4% ao ano, enquanto as vendas de automóveis e motocicletas aumentaram anualmente 7% e 12%, respectivamente. “Nesse período houve queda no número de passageiros transportados por ônibus, o que significa que nas grandes cidades a mobilidade está praticamente inviável. O problema não está apenas em São Paulo, mas em todas as metrópoles”, ressaltou.
O estudo mostra que o deslocamento coletivo mais usado é sistema de ônibus: 78,4% dos gastos são nessa modalidade, entre moradores das capitais. Nos colares metropolitanos esse percentual chega a 88%. O uso do transporte alternativo chega a 11,5% nas cidades interioranas, que é de 5,1% nas capitais e 3,7% nos colares metropolitanos.
Carvalho destacou que o aumento de renda foi menor que o aumento do gasto das famílias com transporte privado, o que reflete a cultura de consumo do Brasil. Nas capitais, 56% dos gastos das famílias são referentes à aquisição, 26,9% com combustível e 11,2% com manutenção. Nas periferias metropolitanas, essas taxas são de 52,8%, 28,7% e de 13,2%, respectivamente.
Inflação
Entre janeiro de 2003 e de 2009, a inflação medida pelo IPCA aumentou 41,8%. Os preços da gasolina e do automóvel subiram bem menos: 27,5% e 19%. Em contrapartida, as tarifas cobradas dos usuários dos ônibus urbanos ficaram 63,2% mais caras. “Esses aumentos tão diferentes são o reflexo das políticas públicas dos governos para a mobilidade urbana”, pontuou Carvalho.
Segundo Matteo, a carência de investimentos nos transportes públicos aliada ao aumento crescente da renda da população faz com que o uso e a procura por transportes individuais cresçam. “Não existe transporte público de qualidade que seja financiado pelo usuário. Em nenhum lugar do mundo. Ou seja, da maneira como funciona esse sistema no Brasil, sem subsídio público, penaliza-se o usuário que é obrigado a usar o serviço”, destacou.
O foco do estudo foram as nove regiões metropolitanas nacionais — São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Recife, Fortaleza, Salvador e Belém —, que são os grandes centros urbanos que enfrentam atualmente os maiores problemas com trânsito. A Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), feita pelo IBGE e utilizada como base para a confecção do estudo, trabalha com os gastos das famílias no dia a dia. A edição na qual o Comunicado se baseia é de 2009, mas foram usados dados da edição de 2003, para fins comparativos.
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